Dispareunia: a dor que compromete o ato sexual

Dispareunia é o nome dado ao transtorno, de causas físicas ou psicológicas, caracterizado pela dor genital durante ou após o sexo.

Pode acometer homens e mulheres, embora seja mais comum no segundo grupo. A falta de informação e o pudor quanto ao assunto podem transformar uma atividade, que deveria ser fonte de prazer, em um verdadeiro tormento.

Sintomas e tipos de dispareunia

Usamos a sensação de dor para definir o indício de dispareunia. Contudo, é importante entender que a dor pode ser relatada de diferentes formas. Ardência e queimação, por exemplo, são modos de interpretar o desconforto.

A intensidade das sensações é igualmente relativa. Pode ser:

  • leve,
  • moderada,
  • chegar a manifestações agudas, quando a dor é dilacerante.

Outro ponto importante é que, ao falarmos do transtorno, ponderamos casos de incômodos recorrentes – e não episódios únicos, isolados.

Quanto ao foco da dor, mulheres apontam diferentes locais ou situações, tais como:

  • parte externa da vagina, especialmente na vulva;
  • durante a penetração, incluindo o mal-estar com introdução de absorventes internos ou vibradores;
  • no fundo da vagina, mais próximo ao útero;
  • após o sexo, podendo perdurar por horas.

Tipos de dispareunia:

  • primária: o incômodo está presente desde a primeira relação sexual;
  • secundária: as sensações desagradáveis surgem com o tempo, depois de experiências normais, sem desconfortos;
  • situacional: ocorre com parceiros específicos ou apenas numa determinada posição;
  • generalizada: todas as tentativas de sexo são acompanhadas por dores.

Causas físicas ou orgânicas

O distúrbio precisa ser avaliado por médicos, que procederão com os exames necessários para investigar a origem do problema.

A resposta pode ser de fundo emocional. Contudo, por vezes, a causa é de ordem física e seu tratamento será compatível com a desordem diagnosticada.

 

Causas de ordem física:

  • malformações genitais;
  • endometriose;
  • alergias ou dermatites;
  • herpes genital;
  • cistite;
  • candidíase;
  • redução da lubrificação vaginal (que pode ser efeito colateral do uso de medicamentos, como antidepressivos e anticoncecionais),
  • doenças sexualmente transmissíveis;
  • menopausa;
  • pós-parto (especialmente quando a episiotomia é efetuada).

Causas psicológicas ou emocionais:

Uma vez constatado que o corpo, sob o ponto de vista físico, está saudável, é hora de averiguar a incidência de fatores psicológicos, que podem inibir a excitação, o relaxamento e a própria lubrificação vaginal.

As circunstâncias emocionais que podem repercutir na atividade sexual são múltiplas, mas existem algumas mais recorrentes.

  • histórico de abuso sexual: quando o sexo é associado a uma violação, trauma ou desrespeito ao desejo (incluindo relações não consentidas que ocorrem entre parceiros casados), a dispareunia é bastante presente;
  • transtornos como estresse, depressão ou ansiedade;
  • educação ou crenças religiosas muito rígidas, que cercam a sexualidade de tabus e sentimentos de culpa;
  • ausência de desejo sexual pelo parceiro;
  • medos, como o de engravidar ou machucar o bebê, durante a gestação;
  • insegurança quanto ao corpo;
  • falta de autoconhecimento, no sentido de compreender o que causa prazer e excita;
  • problemas de autoestima.

Tipos mais comuns

  • A dispareunia de introito (vaginismo) é a manifestação mais comum quando a causa da dor tem origens emocionais.
  • Caracteriza-se pela contração da musculatura vaginal, que impede a penetração confortável e prazerosa. Em outras palavras, a tensão causa espasmos involuntários na vagina, fechando-se ao pênis ou qualquer objeto que seja introduzido (inclusive em exames ginecológicos).

 

  • A dispareunia pós-parto, cujas razões podem ser de ordem física – como a decorrência de procedimentos cirúrgicos (episiotomia) – também pode ter fundo psicológico. Isto porque, depois do parto, dúvidas quanto ao corpo e à própria sexualidade são normais.

Tudo será como antes? Vai doer? O prazer diminuirá? A aparência pós-gestação está atraente? Questionamentos como esses são muito comuns. Somados ao cansaço e mudança de rotina do casal, o momento pós-parto pode, sim, desencadear episódios de dispareunia.

O importante é encontrar naturalidade para lidar com o assunto, conversar com o médico – a fim de obter todas as informações necessárias para afastar medos – e fortalecer a cumplicidade com o parceiro, eliminando inseguranças.

Consequências da dispareunia:

Primeiramente, vale enfatizar que a dor sempre sinaliza que algo não vai bem. Como vimos, ela pode ser o sintoma de alguma doença, que precisa de tratamento oportuno. Ignorar esse aviso pode agravar o quadro e trazer danos irreversíveis.

 

Todavia, não apenas a saúde física está em risco. Mesmo quando sua origem está nas causas orgânicas, o estado psicológico pode sofrer fortes abalos.

 

Quando o sexo dói, ele passa a ser rejeitado. Isso empobrece a qualidade de vida e os sentimentos de inadequação, incapacidade e frustração são multiplicados.

 

Sem dúvidas, impacta também na relação com o parceiro. Com o sexo, busca-se satisfação mútua. E, quando esta não ocorre, o desentendimento avança para outros setores da convivência.

 

Algumas mulheres, buscando “agradar” seus parceiros, submetem-se ao ato sexual, apesar da dor. A situação, no entanto, tende a ser insustentável – além de ser a escolha equivocada.

 

Especialmente quando não há abertura para relatar o incômodo, a dor acaba por afastar o casal. O sentimento de culpa pode tomar conta e até inviabilizar relações futuras.

 

É crucial que o sexo seja percebido como qualquer atividade que, normalmente, possamos praticar. Quando notamos qualquer irregularidade com nosso corpo, o que fazemos? Buscamos ajuda de um profissional da saúde, narramos nossas dificuldades, compartilhamos com quem temos intimidade. O mesmo deve ser feito quando a disfunção está no âmbito sexual. Simples assim!

Dispareunia: tratamentos 

Dependendo da causa, o tratamento específico será recomendado. Pode envolver:

  • fisioterapia pélvica,
  • terapia hormonal,
  • uso de pomadas lubrificantes ou cirurgias, de acordo com o quadro clínico diagnosticado.

 

Em casos de dispareunia situacional, uma simples adaptação resolve o problema. Posições desagradáveis devem ser evitadas e, com o diálogo, o casal descobre o ritmo que beneficia ambos. O autoconhecimento do corpo e das circunstâncias que são – ou não – excitantes, promovendo relaxamento e lubrificação, também são essenciais.